Trago a história do publicitário baiano Fabiano Lacerda para tratar de um assunto que é muito importante no universo do esporte: objetivos. Ou propósito, como ele gosta de chamar. São as metas que nos colocamos ao longo da vida – e nesse caso eu já ultrapassei até o limite do esporte – que nos movem
Se você se bater com o publicitário baiano Fabiano Lacerda pelas ruas de Salvador, jamais vai imaginar que aquele homem alto e magro, hoje com 34 anos, já teve o peso na casa dos três dígitos. Eram 192 kg, para ser mais precisa, que ele carregava em seu corpo. Até que ele resolveu usar a corrida como uma das ferramentas para mudar e alcançar um objetivo que ele nunca tinha imaginado: perder ao todo 103kg.
Trago a história de Fabiano para tratar de um assunto que é muito importante no universo do esporte: objetivos. Ou propósito, como ele gosta de chamar. São as metas que nos colocamos ao longo da vida – e nesse caso eu já ultrapassei até o limite do esporte – que nos movem. Com a corrida de rua não é diferente. A vontade de se movimentar nos tira no zero, a de ir além nos leva aos 5km, 10km, 21km, 42km etc.
O primeiro propósito do publicitário foi ganhar uma aposta. Isso mesmo, depois de algumas brincadeiras por causa do seu peso, ele foi desafiado pelos colegas de trabalho a emagrecer 60kg em seis meses. Só do próprio pai o lance mínimo foi R$ 5 mil. Se perdesse, teria que pagar o dobro do que foi apostado por cada um. No meio das regras uma condição que ele encarou como um desafio: não poderia fazer cirurgia bariátrica ou utilizar remédios emagrecedores. “Quando meu pai fala uma coisa ele vai lá e faz. E eu puxei isso dele”, garante Fabiano.
Com o ego, literalmente, do tamanho que ele tinha, como ele mesmo brinca, levou a coisa a sério e para não correr o risco de perder a aposta, foi buscar ajuda de especialistas. Buscou orientações com nutricionista, profissional de educação física e fisioterapeuta para que seu corpo não fracassasse na missão. “Eu sabia que não podia ir com muita sede ao pote e fazer uma atividade muito intensa, senão ia me lesionar e não cumpriria a aposta”, lembra.
Então ele começou caminhando. Passou quatro meses assim. No final do quarto mês começou a trotar e aí começou a participar de provas de corrida. Caminhava a prova toda, mas ganhava incentivo para fazer distâncias maiores. O primeiro evento que participou foi uma prova noturna de 5km, em janeiro de 2015. Chegou em último lugar. Na segunda prova também foi o último a chegar, escoltado pelo Grupamento Águia. “Chegar assim, com muita gente batendo palmas, me deu mais força”, diz.
No quinto mês ele ganhou a aposta. Tinha perdido os 60kg e o seu propósito. “Meu deu um vazio enorme sem a aposta”, recorda. Mas, lembra aquela conversa sobre objetivos que tivemos mais acima. Sem mais nenhuma disputa em jogo, Fabiano percebeu que poderia continuar se desafiando e conseguindo ir mais longe. Então, lançou a meta de completar uma prova correndo do início ao fim; depois de fazer 10km caminhando; depois de fazer esses mesmos 10km, só que correndo; e foi assim até alcançar uma meia maratona com a prova Farol a Farol. Você acha que ele parou? Mirou em um terceiro farol, o de Humaitá e saiu do Farol de Itapuã, passou pelo da Barra e chegou no seu destino completando 36km.
Hoje, ele segue criando novos propósitos no esporte. Mas, carrega um ainda maior: “mover a vida as pessoas de alguma forma”. Fez um livro que conta sua saga, A Aposta: Motivações que encontrei para perder mais de 100 kg (Rosa de Saron/R$ 35/120 páginas), e se prepara para uma corrida vertical e, futuramente, um Iron Man. Eu só posso desejar a ele muita sorte e meus parabéns pelo grande exemplo. E, de alguma forma tranquilizá-lo de que está no caminho certo. Ao menos a mim, a sua história moveu a criar novos propósitos.